Vacina contra COVID-19 que será aplicada em crianças não é experimental

Segurança e eficácia da vacina da Pfizer, aprovada para o público infantil no Brasil, já foram comprovadas, ao contrário do que sugere postagem de médica negacionista no Twitter

Mais uma vez, a médica Nise Yamaguchi causa polêmica ao questionar a vacinação de crianças de cinco a 11 anos contra a COVID-19 no Brasil, após a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

No Twitter, em referência à tecnologia usada na vacina contra COVID-19 aprovada para uso, Yamaguchi postou: “A terapia com RNAm [mensageiro] em crianças faz parte de um experimento que vai avaliar os efeitos a médio e longo prazo previsto para acabar em 2026”. Ela remete genericamente a uma publicação no site Clinical Trials, vinculado ao Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, mas não especifica qual seria o estudo em particular.

No Brasil, assim como nos Estados Unidos, a vacina aprovada pela Anvisa para a vacinação de crianças contra a COVID-19 é a da Pfizer, em uma dosagem menor que a aplicada em adultos. “Os dados que nós temos do primeiro estudo da Pfizer, com 2,5 mil crianças acompanhadas por dois meses, são suficientes para se chegar à conclusão de que nesse momento da pandemia a vacina é benéfica e não traz efeitos colaterais graves”, assegura a infectologista pediátrica Lilian Diniz, docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos acompanhou eventos adversos notificados após a aplicação da vacina contra a COVID-19 da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos, para atestar a segurança do imunizante nessa faixa etária. Do total de 8,7 milhões de doses aplicadas no período de 3 de novembro a 19 de dezembro de 2021, foram relatadas 4.249 notificações de eventos adversos após a vacinação, o equivalente a 0,049% das doses aplicadas. A grande maioria (97,6%) dos efeitos notificados foi leve a moderada. A vacina foi administrada em duas doses, com três semanas de intervalo.

Segundo Diniz, acompanhar por mais tempo ou aumentar o número de crianças acompanhadas possibilita a obtenção de dados adicionais sobre a duração da proteção e o possível surgimento de efeitos colaterais raros. “A maioria dos efeitos colaterais ocorre no primeiro mês, então, é possível identificar a maior parte deles. Aumentar o grupo e prolongar o tempo de seguimento irá mostrar efeitos colaterais raros ou raríssimos”, prevê.

Lilian Diniz enfatiza que a vacina não é experimental, pois tem segurança e eficácia comprovadas. “Uma coisa experimental é algo que não conhecemos os efeitos. Quando os remédios, por exemplo, são experimentais, estão em fase de pesquisa, é preciso assinar um termo de consentimento”. Ela lembra que a vacina contra a COVID-19 induz à proteção contra a doença nas crianças. “Os anticorpos foram medidos e são produzidos em níveis semelhantes aos observados em adultos”, relata.

A infectologista pediátrica também refuta a veracidade da narrativa que associa o RNA, ou seja, o material genético do vírus usado na formulação das vacinas, a algo maléfico, que poderia provocar complicações futuras. Ela compara o RNA ao envelope de uma carta. “A carta é a informação para produzirmos a proteína que irá induzir a proteção. Mas o envelope dessa carta, que é o RNA, será rasgado em dias, no máximo semanas, não fica nas nossas células. Daqui a alguns meses, as crianças, assim como os adultos, não terão mais o RNA, nem a proteína, dentro do organismo, somente os anticorpos”, explica.


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