Relatório global revela efeitos da pandemia sobre o jornalismo científico

Pesquisa examinou fatores como histórico, carga de trabalho e condições que afetam a prática de jornalistas de ciência

Relatório global sobre Jornalismo Científico, elaborado a partir de uma pesquisa com a participação de 633 jornalistas de 77 países, com foco nas práticas dos jornalistas de ciência, analisou os efeitos da pandemia COVID-19 na área, dentre outras questões relacionadas ao perfil e ao ambiente de trabalho dos profissionais. A publicação foi lançada no dia 21 de outubro, por ocasião dos 20 anos do SciDev.Net (www.scidev.net), site que é referência internacional em notícias, opiniões e análises confiáveis ​​sobre informações relacionadas à ciência e tecnologia para o desenvolvimento mundial.

Os dados foram coletados por meio de um questionário on-line entre fevereiro e maio de 2021, durante a pandemia, quando o processo de compartilhamento dos resultados da ciência precisou ser acelerado. Isso afetou também o jornalismo científico, que passou a responder a uma demanda crescente por informações confiáveis.

Um dos resultados da pesquisa, sobre a relação dos jornalistas com as fontes de informação, chama a atenção: quase metade dos entrevistados (49%) informou que os cientistas estão mais disponíveis durante a pandemia do que em anos anteriores. A situação foi relatada especialmente por jornalistas da América Latina e do Norte da África, onde os jornalistas acreditam que as fontes estavam mais comunicativas e abertas nesse período.

As principais fontes de informação dos profissionais atuantes na área de jornalismo científico durante a pandemia foram artigos científicos já revisados, cientistas do próprio país do jornalista e instituições oficiais. Ao mesmo tempo, mais da metade dos jornalistas (55%) afirmam usar ou terem usado em suas reportagens trabalhos divulgados como preprints (ainda sem revisão de outros cientistas). No entanto, chamou a atenção o fato de que cerca de 40% dos respondentes informaram não realizar ações adicionais ao cobrir o tema de um preprint.

Ainda assim, os profissionais demonstraram ter noção de que esse tipo de publicação pode conter resultados provisórios, sujeitos à mudança depois de serem revisados por pares. Quando perguntados se adotam procedimentos diferentes nestes casos, 59% disseram que sim. A consulta a outras fontes e a menção de que o estudo não passou por revisão foram os principais procedimentos citados.

Tal cuidado também foi relatado em relação às notícias falsas: 64% dos jornalistas afirmaram levá-las em consideração ao produzir suas reportagens. A tendência é semelhante entre as regiões, com mais evidências nos Estados Unidos e Canadá (85%), seguidos pela África Subsaariana e do Sul (71%), Ásia e Pacífico (65%), Norte da África e Oriente Médio (63%) e Europa e Rússia (63%). Na América Latina, pouco mais da metade dos entrevistados (51%) declarou levar em conta as notícias falsas.

Em geral, os jornalistas  de ciência demonstraram estar satisfeitos em relação aos cientistas como fontes de informações. Por outro lado, estão mais insatisfeitos com o acesso a informações das agências de governo. Prevalece também a satisfação quanto à liberdade de imprensa e de expressão e com a segurança pessoal no desempenho das funções como comunicadores.

A pesquisa foi conduzida por Luisa Massarani, coordenadora da SciDev.Net para América Latina e Caribe, também à frente do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia; Marta Entradas, do Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal; Luiz Felipe Fernandes Neves, pesquisador brasileiro da Universidade Federal de Goiás e da Fundação Oswaldo Cruz Institute; e Martin W. Bauer, da London School of Economics, no Reino Unido.


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