Novo coronavírus não foi criado em laboratório

Boatos de que o vírus é fruto de manipulação genética repercutiram nas redes sociais nos últimos dias. Mas já em março, no começo da pandemia, análise do genoma do SARS-CoV-2 indicou origem natural.

No final da semana passada, voltaram a circular nas redes sociais e em sites de credibilidade duvidosa fake news sobre a origem da COVID-19. Segundo o boato, o SARS-CoV-2, vírus causador da doença, teria sido criado intencionalmente em laboratório. A autora da denúncia seria uma virologista da Universidade de Hong Kong, escondida nos EUA por meio de retaliação do governo chinês. As evidências científicas já publicadas até agora, no entanto, apontam em outra direção: o SARS-CoV-2 tem origem natural, tendo evoluído a partir de vírus que circulam em espécies animais, como morcegos e pangolins.

Quando um vírus misterioso surgido em Wuhan começou a infectar humanos, uma das primeiras atitudes da comunidade científica chinesa foi isolar o vírus e descrever seu genoma – isto é, desvendar as informações genéticas contidas no vírus. Essa descrição foi o ponto de partida para o desenvolvimento de outros estudos, como a investigação sobre a origem do SARS-CoV-2.

“A maneira como identificamos e caracterizamos os vírus atualmente é a técnica chamada sequenciamento de ácido nucleico  (DNA ou RNA). Com essa técnica, é como se fizéssemos a ‘impressão digital’ dos vírus”, explica Luciana Costa, professora associada do Departamento de Microbiologia da UFRJ. “Com os dados do sequenciamento, nós comparamos essa ‘impressão digital’ com todas as outras de outros vírus conhecidos e, assim, determinamos o parentesco entre eles. Fazendo isso, nós podemos identificar com mais de 90% de certeza a origem de uma sequência. Podemos dizer, inclusive, se alguns ‘pedaços’ da sequência ou mesmo a sequência inteira foi ‘criada’ pelos seres humanos”.

Foi exatamente isso que fez um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália. Em março, eles publicaram na prestigiosa revista Nature Medicine suas conclusões: “Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é algo construído em laboratório nem um vírus propositalmente manipulado”, escreveram os autores (a tradução é nossa). Os pesquisadores relatam, em seu trabalho, que o vírus evoluiu de forma natural e sua transmissão entre humanos se originou a partir de uma única pessoa infectada, conforme explica um press release divulgado por ocasião da publicação do artigo.

Universidade de Hong Kong desmentiu pesquisadora

Em julho, a Universidade de Hong Kong (HKU, na sigla em inglês) publicou nota sobre uma entrevista concedida pela pesquisadora Yan Limeng a uma emissora de TV. Ela vem afirmando à imprensa ter provas da criação do SARS-CoV-2 por meio de manipulação genética em laboratório.

Embora a cientista tenha, de fato, realizado pós-doutorado na instituição, já não está vinculada a ela. “Dra. Yan nunca conduziu nenhuma pesquisa sobre a transmissão entre humanos do novo coronavírus na HKU durante os meses de dezembro de 2019 e janeiro de 2020, como afirmou em entrevista”, diz a universidade. A HKU também declarou que não reage a boatos e que não vai mais comentar este tema.


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