Não há evidências científicas sobre eficácia da proxalutamida no tratamento da COVID-19

Substância foi analisada em estudo brasileiro que teria violado protocolos de ética em pesquisa

O aplicativo parceiro Eu fiscalizo filtrou postagens recentes publicadas no Instagram pelo médico Ricardo Ariel Zimerman, que depôs na CPI da Pandemia em junho deste ano, quando defendeu a prescrição da ivermectina para o tratamento da COVID-19. Agora, ele tem usado as redes sociais em defesa do uso da proxalatumida no combate à doença. “Todas as drogas com ação antiviral já tentadas precocemente funcionaram (nitazoxanida, bromexina, ivermectina, proxalutamida, anticorpos monoclonais…)”, argumenta Zimerman em uma das postagens.

A proxalutamida é uma substância que está em fase avançada de ensaios clínicos, ou seja, testes em humanos, para o tratamento do câncer de próstata. Nos últimos dias, um estudo sobre a aplicação do medicamento candidato também ao tratamento da COVID-19 esteve no centro do debate entre a comunidade científica e ganhou destaque na imprensa nacional e internacional.

O motivo foi a possível violação de protocolos estabelecidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e a suspeita de que 200 mortes tenham ocorrido durante o referido estudo, sem que as pesquisas fossem interrompidas. O Conselho Nacional de Saúde (CNS), ao qual a Conep está ligada, divulgou uma nota pública com esclarecimentos sobre as irregularidades do estudo com a proxalutamida. Entidades como a Sociedade Brasileira de Bioética manifestaram repúdio ao que chamaram de “desrespeito à dignidade e aos direitos humanos dos participantes da pesquisa”.

Na avaliação do coordenador do Laboratório de Química Medicinal e Computacional do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Adriano Defini Andricopulo, o estudo foi “mal conduzido”. “É uma questão ética, moral, a obrigatoriedade de notificação dessas mortes”, afirma.

Andricopulo explica qual foi o embasamento para que a proxalutamida fosse considerada no tratamento da COVID-19. “No passado, estudos observacionais indicaram que existia maior prevalência de casos da doença em pacientes do sexo masculino. Então, foi levantada a hipótese de que os hormônios androgênicos poderiam atuar como fator de risco para casos graves relacionados à COVID-19”, relata.

No entanto, segundo o pesquisador, estudos posteriores demonstraram que tais hormônios, a exemplo da testosterona, não eram diretamente responsáveis pelo agravamento da infecção provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2. “É preciso deixar claro que não há evidência científica sólida que suporte o papel da terapia antiandrogênica no tratamento de pacientes com COVID”, enfatiza.

Andricopulo orienta a população a ficar atenta a influenciadores que divulgam “informações ainda não comprovadas, equivocadas e muitas vezes mentirosas sobre o potencial medicamento”, assim como já ocorrido com outras substâncias, a exemplo da cloroquina e da hidroxicloroquina e da ivermectina, que podem ser facilmente adquiridas nas farmácias.  “Sabemos que o uso indevido foi muito grande para tratar uma condição sem qualquer base científica e, na prática, com nenhuma eficácia”, diz.


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