Medicamento candidato ao tratamento da COVID-19 requer testes complementares

Ainda é cedo para falar da eficácia de fármaco usado no controle do colesterol para reduzir infecção pelo novo coronavírus, como sugerem postagens na internet.

Um post publicado no Instagram por um perfil que constantemente tem conteúdos retirados pela plataforma, classificados como informação falsa ou prejudicial, destaca que um fármaco usado no controle do colesterol, o fenofibrato, reduziu em até 70% a infecção viral da COVID-19. 

A postagem, identificada pelo aplicativo parceiro Eu fiscalizo, remete ao artigo publicado na revista científica Frontier of Pharmacology por pesquisadores europeus, no início de agosto, que descreve um estudo realizado in vitro, ou seja, ainda na fase laboratorial, sem que tenham sido feitos testes em humanos, nem mesmo em animais.

Uma simples busca na internet mostra uma série de manchetes, em diferentes idiomas, anunciando que o medicamento reduz a infecção provocada pela COVID-19, o que deve ser interpretado com cautela, na avaliação do coordenador do Laboratório de Química Medicinal e Computacional do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Adriano Defini Andricopulo.

“Ao longo da pandemia, tivemos vários candidatos com ação in vitro vendidos para a população como soluções para o tratamento da COVID que não têm, de fato, nenhuma eficácia in vivo para combater a doença. Em relação ao que se sabe até o momento, é mais um candidato promissor, que requer a realização de triagens clínicas”, ressalta.

No próprio artigo científico, os autores afirmam que “uma análise de risco-benefício apropriada será necessária, uma vez que a atividade antiviral clínica do fenofibrato seja definida para identificar quais pacientes com SARS-CoV-2 podem ser tratados com segurança com fenofibrato”. 

Andricopulo sugere a consulta ao portal de triagens clínicas considerado uma referência mundial, o ClinicalTrials.gov , para acompanhar os andamentos dos testes com essa substância. “Há dois estudos de fase clínica registrados, que estão recrutando, nem iniciaram, de fato, testes em humanos. Um é feito nos Estados Unidos e o outro em Israel. A vantagem do candidato é que se trata de um medicamento já usado por via oral, que passou por testes de segurança, mas falta comprovar se tem eficácia. O caminho é muito longo, geralmente é aí que muitos medicamentos não dão certo”, explica.

Novos medicamentos candidatos

Por outro lado, anúncios recentes sobre testes avançados com medicamentos antivirais para o tratamento da COVID-19 por grandes farmacêuticas, como a Pfizer e a Astrazeneca, também fornecedoras de vacinas atualmente disponíveis contra a doença, têm levado a questionamentos infundados no Twitter sobre a eficácia dos fármacos e até mesmo dos imunizantes.

O pesquisador da USP lembra que é importante as pessoas entenderem que, para enfrentar uma pandemia como esta, são necessárias abordagens diferentes, como as vacinas para imunizar as pessoas, iniciativas para reduzir as chances de que se contaminem e, também, tratamento com medicamento, para aquelas que contraem o vírus e podem desenvolver formas leves, moderadas ou até graves e morrer. “Um antiviral específico, desenvolvido para COVID, terá um impacto enorme ao chegar ao mercado”, prevê.

Andricopulo menciona como importante iniciativa para a avaliação de drogas candidatas ao tratamento da COVID-19 o estudo Solidarity (Solidariedade), conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No início de agosto, foi anunciada uma nova fase de testes com três novas drogas para pacientes hospitalizados: artesunato, já usado no tratamento da malária; imatinibe, administrado para tratar o câncer; infliximabe, prescrito para doenças que atingem  o sistema imunológico, como a artrite reumatóide.

Outras drogas foram avaliadas previamente pelo estudo da OMS: remdesivir, hidroxicloroquina, lopinavir e interferon. Os resultados mostraram que as quatro tiveram pouco ou nenhum efeito em pacientes hospitalizados com COVID-19.


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