O que é fato e o que é fake sobre a variante Delta

Com o avanço da linhagem do novo coronavírus pelo mundo, inclusive no Brasil, surgem também notícias falsas sobre sua origem e relação com as vacinas.

No Twitter, um perfil que se apresenta como portal de notícias compromissado com a verdade coloca em dúvida a existência da variante Delta do SARS-CoV-2, causador da COVID-19, uma vez que o vírus teria sido “patenteado duas décadas atrás”. Também circulam mensagens falsas na internet insinuando que profissionais do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos teriam afirmado que a variante é a própria vacina.

Segundo relatório divulgado no último dia 8 de agosto pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a variante Delta, identificada pela primeira vez na Índia em outubro de 2020 e notificada até o presente momento em pelo menos 135 países, já está presente em quase 90% das amostras do novo coronavírus em nível global.

No Brasil, o estado do Rio de Janeiro concentra o maior número de casos detectados da variante até agora. A Delta passou a ser a segunda variante mais prevalente no território fluminense: dentre 364 genomas analisados de amostras coletadas entre os dias 22 de junho e 19 de julho de 2021, 91 foram classificados como a variante Delta, o equivalente a 26%, de acordo com a última nota técnica divulgada pela Secretaria de Estado de Saúde, em julho. Em primeiro lugar aparece a variante Gama (65%), identificada pela primeira vez em Manaus, em novembro de 2020, e hoje predominante em todo o País.

A geneticista Ana Tereza Vasconcelos, pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e coordenadora da Rede Corona-ômica RJ, ressalta que seria altamente improvável que alguém tivesse criado um vírus 20 anos atrás e previsse também suas mutações.

“As mutações acontecem por acaso. Aquela que dá maior desempenho ao vírus permanece, outras desaparecem. Vários eventos de sobrevivência do vírus que aconteceram ao longo do tempo, que estamos vendo, acompanhando, teriam que ter sido simulados”, observa.

O virologista Renato Santana Aguiar, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos coordenadores do Observatório de Vigilância Genômica de Minas Gerais, reforça: “A dinâmica de aparecimento e declínio de diferentes variantes virais é um processo natural de evolução do vírus. Se não fizer isso, ele não consegue infectar indivíduos”. 

O pesquisador faz um paralelo com a dengue: o vírus que provoca a doença tem quatro variações. Além disso, Aguiar lembra que vírus não podem ser patenteados. “Ninguém é dono de um vírus, o que se patenteia é um produto biotecnológico”, completa

Variante versus vacina

Já há evidências de que a variante Delta está associada à transmissibilidade maior do que a já observada nas demais variantes de preocupação (VOCs, na sigla em inglês) e que pode reduzir o efeito protetor das vacinas naquelas pessoas que só receberam a primeira dose. 

“A carga viral das pessoas que têm Delta é muito maior do que quando as pessoas carregam outras variantes. Uma pessoa com a Delta pode infectar mais pessoas, porque ela tem mais vírus”, compara a geneticista do LNCC.

Quanto à suposição de a vacina ser a própria variante, como sugerem mensagens falsas em circulação nas redes sociais,  o virologista da UFMG lembra que as vacinas contêm em sua formulação apenas um fragmento do vírus, ou o vírus inativado ‒ caso da vacina Coronavac. 

“Na vacina atenuada, em que é utilizado um genoma do próprio vírus, ele está repleto de mutações que impedem sua replicação, ou que ele realmente gere a doença”, detalha Aguiar. 

“A variante Delta é o vírus como um todo, então, estamos falando de um genoma inteiro viral, capaz de produzir partículas virais. Então, ele carrega todas as informações para gerar vírus que conseguem infectar novas células”, prossegue.

O pesquisador lembra que as mutações características da variante Delta são bem diferentes das outras variantes. “A vacina que usa o vírus inativado foi feita a partir daquelas primeiras sequências de Wuhan, na China. E a Delta é completamente distinta dela”, conclui.


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