Afinal, medidas do tipo “lockdown” funcionam?

Há vários exemplos bem sucedidos. A estratégia, no entanto, não deve ser usada sozinha, mas combinada com outras para reduzir a transmissão da COVID-19.

Desde o início da pandemia de COVID-19, a palavra lockdown passou a fazer parte do vocabulário dos brasileiros. No início, eram notícias distantes, sobre, por exemplo, a cidade chinesa de Wuhan, onde o SARS-CoV-2, vírus causador da doença, foi identificado pela primeira vez. Agora, debate-se muito se as cidades brasileiras devem adotar o lockdown como estratégia para reduzir o número de casos e óbitos relacionados à COVID-19 e, consequentemente, a pressão sobre os hospitais, que passam por uma crise de ocupação de leitos de UTI. Fake news divulgadas em redes sociais sugerem que o lockdown não funciona. Já o sanitarista Christovam Barcellos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz, afirma que o lockdown pode ser uma estratégia eficaz, mas não deve ser a única.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define lockdown como a tomada de “medidas de distanciamento social em larga escala e restrição de mobilidade” e defende que essa estratégia pode reduzir a transmissão da COVID-19, na medida em que limita o contato entre as pessoas. Embora admita que lockdowns podem ter impacto sobre os indivíduos e sobre a sociedade, a OMS reconhece que, por vezes, o lockdown é a única opção possível para desacelerar o contágio e ganhar tempo no combate à pandemia.

Barcellos lembra que esta estratégia tem sido utilizada com sucesso em alguns países, mesmo aqueles que já iniciaram a vacinação de suas populações. “Um dos melhores exemplos é Portugal, que estava sofrendo uma terceira onda muito perigosa agora em janeiro e fevereiro de 2021. O país decretou várias medidas de restrição, com apoio do governo para as pessoas ficarem em casa, e conseguiu baixar o número de novos casos”.

No Brasil, um país maior e mais populoso, as medidas precisam ser adaptadas à realidade de cada região. O que funciona na Amazônia, por exemplo, é diferente daquilo que pode ser eficaz no Sudeste ou no Sul. Segundo Barcellos, as regiões metropolitanas estão entre as mais desafiadoras, por causa das populações maiores e também da grande circulação de pessoas entre os municípios. Nesses casos, é preciso que as medidas de restrição de atividades e mobilidade sejam articuladas. O especialista destaca, ainda, a pobreza e as desigualdades que temos no Brasil adicionam um desafio extra às medidas de lockdown: “Muitas pessoas só vão conseguir ficar em casa da maneira adequada se houver solidariedade e apoio social.”

Algumas cidades brasileiras decretaram lockdown e começam a ver resultados. Mas eles não são imediatos: a redução no número de casos e óbitos vem semanas após a adoção de medidas restritivas. “Fortaleza e Salvador, por exemplo, já têm resultados positivos, com uma adesão muito grande da população. Em duas semanas, o número de casos já começa a reduzir. No longo prazo, isso vai diminuir a pressão que está havendo sobre os hospitais, com liberação de leitos”, avalia o sanitarista. O município de Araraquara (SP) também usou um lockdown de 10 dias em fevereiro como estratégia para frear a COVID-19 – nas semanas seguintes, houve queda no número de novos casos.

Lockdown é diferente de isolamento de casos e contatos

Vale lembrar que as medidas de lockdown impostas a determinados municípios não deve ser confundida com o isolamento de pacientes diagnosticados com COVID-19 ou com suspeita da doença. Independentemente de como estão as atividades (comeciais, educacionais, de lazer etc.) em uma localidade, “pessoas que têm sintomas, estão com suspeita de COVID-19 ou testaram positivo – ainda que assintomáticas – devem ficar em isolamento”, orienta Barcellos. Isso vale mesmo para quem divide a casa com alguém: na medida do possível, é preciso reduzir o contato entre as pessoas. Ele também sugere que pessoas mais frágeis ou vulneráveis, incluindo idosos, obesos e portadores de doenças crônicas (ainda que jovens), redobrem os cuidados, pois têm um risco maior de desenvolver formas graves da COVID-19.

Além disso, é fundamental saber que o lockdown, ainda que seja uma estratégia eficaz, não pode ser a única medida de controle da pandemia. Vacinação, políticas de testagem, distanciamento social e uso de máscaras também são medidas fundamentais, e devem ser combinadas para aumentar nossas chances de conter a COVID-19.


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